segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Quando for grande


Várias foram as alturas da minha vida em que pensei que tinha de ser assim.
Aguento tudo. Venham mais dificuldades! Isso dá-me carácter, torna-me a pessoa que eu quero vir a ser. Faz com que dê um valor imenso ao grupo restrito de pessoas com carácter, alma e coração que conheci e hei-de conhecer. Valorizo-as.
Aquelas que lutam com sorriso nos lábios. Aquelas que sofrem verdadeiramente e quase ninguém se apercebe. Aquelas que ao serem, ensinam.
Essas ficam no meu coração e de todas aquelas que passaram pela minha vida, só recordo uma diariamente. 
Com ela tive o privilégio de estar pouco tempo. O tempo suficiente para ainda lhe dar mais valor. 
Recordo-a diariamente nas mais pequenas coisas e sorrio. Lembro-me sempre que vejo uma planta, uma flor, sempre que penso no "filhinha".
Ensinou-me a ter mais calma. 
Sempre que a recordo quando estou triste, revoltada ou magoada, acalma-me. Sorrio sempre que penso nela. Sorrio sempre que penso naquela pessoa que já não está entre nós mas dentro de nós. Dentro daqueles que, como eu, tiveram este privilégio.
Quando for grande, vou ser assim. Vou ensinar, simplesmente sendo. 
Por dar este valor, por conhecer tamanha essência, tamanha força tenho cada vez menos paciência para narcisismos, para futilidades e vitimizações.
Mas ela também tinha essa paciência. 
Penso nisso. 
Sorrio. 
Com o tempo lá chegarei, espero. Quando for grande.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Caranguejando



Subitamente sente-se um nó na barriga. Um aperto no coração. 
Na realidade trata-se apenas da constatação que nós afinal não chegamos. 
Não importa o que recebemos, o que não recebemos, o que já demos, o que não demos. Nada disso importa. Acordamos.

Fica só o vazio da impotência e o espaço invadido pelo fracasso que inundou toda a nossa cabeça e, pior do que isso, o nosso coração. Fica só a ideia de que não chegamos. Afinal não somos mais ou menos. Simplesmente não chegamos.
Tudo para o que chegámos deixa de ter importância porque afinal não somos mais ou menos. Talvez tivéssemos chegado apenas porque fomos obrigados a isso. Se assim é, não é nada de especial. E se por em algum momento, por breves instantes mesmo, pensámos que não éramos banais... Isso torna-nos ridículos, parvos. Vazios.

Mas fica sempre tudo bem. E fica porque o bem é relativo. O bem é respirar, é ultrapassar seja de que forma for. Mesmo sem ultrapassar na realidade. Basta que acreditemos que ultrapassámos.
Guardamos tudo na gaveta das mágoas e seguimos caminho. Não tem de ser em frente, não tem logo de ser em frente embora acreditemos que eventualmente será.

De repente somos caranguejos que não chegam, não chegaram mas que hão-de chegar a algum lado. Hão-de chegar, a dada altura. Demore o tempo que demorar a entendermos que chegamos. Porque nos bastamos a nós. Se continuarmos a ser nós próprios havemos de chegar.
E se há coisa que não devemos fazer é parar de sermos nós próprios. Isso há-de ser valorizado e acarinhado na sua plenitude. Se não for por outra pessoa, será por nós. Eventualmente.
Até lá sentimo-nos pequenos. Até essa valorização chegar, não chegamos.
Até lá fica o nó na barriga e o aperto no coração por afinal não chegarmos.