Subitamente sente-se um nó na barriga. Um aperto no coração.
Na realidade trata-se apenas da constatação que nós afinal não chegamos.
Não importa o que recebemos, o que não recebemos, o que já demos, o que não demos. Nada disso importa. Acordamos.
Fica só o vazio da impotência e o espaço invadido pelo fracasso que inundou toda a nossa cabeça e, pior do que isso, o nosso coração. Fica só a ideia de que não chegamos. Afinal não somos mais ou menos. Simplesmente não chegamos.
Tudo para o que chegámos deixa de ter importância porque afinal não somos mais ou menos. Talvez tivéssemos chegado apenas porque fomos obrigados a isso. Se assim é, não é nada de especial. E se por em algum momento, por breves instantes mesmo, pensámos que não éramos banais... Isso torna-nos ridículos, parvos. Vazios.
Mas fica sempre tudo bem. E fica porque o bem é relativo. O bem é respirar, é ultrapassar seja de que forma for. Mesmo sem ultrapassar na realidade. Basta que acreditemos que ultrapassámos.
Guardamos tudo na gaveta das mágoas e seguimos caminho. Não tem de ser em frente, não tem logo de ser em frente embora acreditemos que eventualmente será.
De repente somos caranguejos que não chegam, não chegaram mas que hão-de chegar a algum lado. Hão-de chegar, a dada altura. Demore o tempo que demorar a entendermos que chegamos. Porque nos bastamos a nós. Se continuarmos a ser nós próprios havemos de chegar.
E se há coisa que não devemos fazer é parar de sermos nós próprios. Isso há-de ser valorizado e acarinhado na sua plenitude. Se não for por outra pessoa, será por nós. Eventualmente.
Até lá sentimo-nos pequenos. Até essa valorização chegar, não chegamos.
Até lá fica o nó na barriga e o aperto no coração por afinal não chegarmos.
1 comentário:
Nós chegamos.
Mas antes de lá chegarmos, penamos. Mas lá chegaremos.
Porque às vezes esquecemo-nos.
Esquecemo-nos do que nos chega. Do que nos aconchega. Esquecemo-nos até de quem somos. E achamos que não chegamos.
Mas somos os mesmos que já lá chegaram. Os mesmos que lá viveram. Mesmo que vivamos agora esquecidos, o poder está lá onde sempre esteve.
E esse dia em que acordamos, é o primeiro dia em que re-vivemos.
Porque nunca é tarde para viver.
Até porque há um dia que chegamos à conclusão que afinal chegávamos.
Somos é mais do que pensávamos.
Nós chegamos. Precisamos é de nos chegar perto de quem nos chega.
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