terça-feira, 13 de maio de 2008

Num ápice

A noite estava silenciosa, pesada. Assim de repente até a achei obesa.
A cama estava grande. Assim de repente, pareceu-me ter 5 metros de largura.
Ao longe ouvia as vozes que, de repente, pareciam estar ao meu lado mas de um momento para o outro [assim de repente] ficaram a oceanos de distância.
Os barulhos da noite incomodavam-me. Assim de repente, acho que todo e qualquer barulho me irritava.
Sentia-me sozinha e assustada. Pensei que se de repente alguém batesse à porta, seria tão de repente que eu não daria por nada.
Lembro-me de ter pensado que sentia mais do que os outros. Lembro-me de sentir que qualquer sopro era para mim um tufão. Lembro-me de me fechar em mim mesma e de, de repente, sentir-me melhor.

E é assim que, de repente, se diz tanto que tanto só diz a uma pessoa. A mim.

2 comentários:

afectado disse...

A tua escrita está cada vez mais difícil de assimilar. Isso não é necessariamente mau :)

Liliana Carvalho Lopes disse...

Adorei este texto... Tão pequenino, mas ao mesmo tempo tão complexo e tão agradável de ler. As comparações usadas, a forma de escrita... Adorei mesmo.

Parabéns**